Dados de Biografia:
- Solon Spanoudis nasceu em 24/04/1922, descendente
de família grega, em Smyrna, na Ásia Menor.
- Sua mãe era Cleo Vulgaris, nascida em família de
posses.
- Seu pai, George Spanoudis, era de família simples de
verdureiros que, tendo ganhado um sorteio de loteria,
ascendeu tanto social como culturalmente. George
estudou medicina em Paris.
- Seu irmão, Theon (1915-1986) estudou medicina em
Viena.
A História:
Smyrna, cidade da Turquia, foi palco de um genocídio em
grandes proporções dos gregos e armênios que lá
residiam durante a guerra Greco-Turca (1919-1922). Os
que sobreviveram foram expulsos. Em julho de 1922 toda
a família Vulgaris, com o Solon aos três meses,
abandonando todos os bens e o conforto em que até
então vivia, fugiu para Atenas, onde se estabeleceu.
Solon, junto ao irmão Theon, estudou na Escola
Americana de Atenas (1928-1941).
Quando concluiu os estudos secundários, Theon foi para
Viena estudar Medicina. Nesta cidade morava uma tia
materna, casada com um austríaco.
Solon passou os primeiros anos difíceis da ocupação
alemã em Atenas, acometido por uma tuberculose. Em
1942, segue para a Áustria encontrar-se com o irmão
Theon que encaminhou Solon para curar-se em um
sanatório nos Alpes. Na volta para Viena, Solon ingressou
na faculdade de Química. Mas, com a vizinhança do final
da guerra e temeroso da dominação soviética e, por ser
químico, de ser enviado para a União Soviética, Solon
pediu transferência para a faculdade de Medicina, em
1945.
Como o irmão, Solon queria especializar-se em psiquiatria, mas foi desaconselhado pelo psicanalista e pedagogo Dr. August Aichorn (1878-1949), com quem passava pelo seu primeiro processo psicoterápico.
A VINDA PARA O BRASIL:
Em 1950, Theon aceitou o convite que recebera no ano
anterior, em Genebra, por ocasião do Congresso
internacional de psicanálise para estabelecer-se no Brasil,
como analista didata dos primeiros psicanalistas da
recém-formada Sociedade Brasileira de Psicanálise (SBP).
Neste mesmo ano, tendo concluído seus estudos de
Medicina em Viena, Solon segue o irmão. Inicialmente
morou em Niterói, onde se preparava na Faculdade
Fluminense de Medicina para os exames de revalidação de
seu diploma, que ocorreu em outubro de 1954. Habilitado
ao exercício profissional, logo mudou-se para São Paulo e,
aproveitando seus conhecimentos de química, estagiou
por dois anos no Laboratório de Hematologia da Seção de
Fisiopatologia do Instituto Butantan, buscando
aperfeiçoamento de técnicas de laboratório. Nesta
oportunidade colaborou com trabalhos de investigação
científica sob orientação dos pesquisadores G. Rosenfeld
(1912-1990) e do endocrinologista Francisco Eichbaum
(1906-1980). Estes trabalhos foram comunicados no
Departamento de Hematologia e Hemoterapia da
Associação Paulista de Medicina e publicados em revistas
internacionais.
Decidiu abrir um pequeno laboratório de análises clínicas,
considerando ser este um caminho mais acessível para a
atuação de um médico imigrante e sem referências
profissionais ou sociais.
Em novembro de 1960, ele naturalizou-se brasileiro.
Em 1961, casou-se com Barbara Schubert. Eles não tiveram
filhos.
Nos anos seguintes, retomou o seu antigo sonho, começa a
se preparar para a especialização em psiquiatria. Junto aos
psiquiatras Luiz Weinmann e Luiz de Araújo Prado e com a
supervisão do também psiquiatra, docente da Faculdade
Paulista de Medicina, Edu Machado Gomes, Solon se dedicou
aos estudos em torno do existencialismo, das diversas
correntes da análise existencial e da fenomenologia. Na
Coordenadoria de Saúde Mental da Secretaria do Estado de
São Paulo, entre 1967 e 1968, fez estágio como
psicoterapeuta fenomenológico-existencial sob supervisão de
Machado Gomes. Com este psicoterapeuta existencial passou
também pelo seu segundo processo psicoterápico. Ainda
naquela Instituição, entre 1968 e 1969, fez estágio teórico-
prático em psiquiatria e psicoterapia no Departamento de
Assistência a Psicopatas sob orientação do psiquiatra Pedro
Dantas.
Em novembro de 1970, Solon obteve da Associação Médica
Brasileira e Associação Brasileira de Psiquiatria o título de
psiquiatra.
As atividades do laboratório de análises clínicas foram
encerradas em 1975, logo após a criação da ABATED. A partir de então dedicou-se integralmente à atividade de
psiquiatra e psicoterapeuta tanto em seu consultório
particular à rua Bento Freitas, 162, 5º andar, como na
unidade do Serviço de Higiene Mental, da rua Itapeva, e aos
grupos de estudo em torno da Daseinsanalyse.
CONTATO COM MEDARD BOSS:
Durante os seus estudos sobre análise existencial, Solon
encontrou o livro Psychoanalysis and Daseinsanalysis cujo
autor, Medard Boss era aqui desconhecido.
Em 1971, Solon escreveu pela primeira vez para Boss que
prontamente respondeu, se colocando à disposição para um
futuro encontro no Brasil, uma vez que os seus filhos Urs e
Maia moravam no sudeste do pais. Na sequência da
correspondência, Boss recomendava várias leituras e até
enviava livros que havia publicado e artigos de revista.
O primeiro encontro com o psiquiatra daseinsanalista suíço,
que precedeu a alguns outros nos anos seguintes, aconteceu
em 1973. Sentindo-se motivado por esse encontro, Solon
organizou o primeiro grupo de estudos visando o
aprofundamento e desenvolvimento do pensamento
daseinsanalítico.
Nesse ano, Boss pediu que Solon participasse do livro que
estava sendo preparado em homenagem aos seus 70 anos, a
ser publicado na Suíça. Atendendo ao convite, Solon
escreveu o artigo “Neurose do Tédio”
(“Langweiligkeitsneurose”) que também foi publicado na
Revista Daseinsanalyse nº 2 (1976)
Em 1974, teve lugar o primeiro seminário organizado por
Solon e Boss, na Fazenda da filha Maia, em Avaré. Deste
seminário inicial participaram todos os integrantes daquele
pequeno grupo de estudo e ele foi editado como Encontro
com Boss (1976) que depois veio a ser o Nº 1 da Revista
Daseinsanalyse.
Também em 1974, com o apoio de seu irmão Theon e do
psiquiatra Luiz Weinmann, junto aos psicólogos e
psicoterapeutas integrantes do grupo pioneiro, Casimiro
Angielczyk, David Cytrynowicz e João Augusto Pompéia,
Solon fundou a Associação Brasileira de Análise e Terapia
Existencial – Daseinsanalyse (ABATED).
Em 1975 é publicado o primeiro livro de Boss, traduzido para
o português por Barbara Spanoudis, Angustia, Culpa e
Libertação (Lebensangst,Schuldgefühle und
Psychotherapeutische Befreiung).
Com a fundação desta associação, Solon se dedicava cada
vez mais aos estudos e divulgação da Daseinsanalyse em
São Paulo.
Depois do seminário inicial, outros três aconteceram, em
1976, 1977 e 1978 sempre com a participação dos
integrantes daquele primeiro grupo de estudos. Em 1978,
Boss proferiu a aula “Psicologia Profilática na Sociedade
Moderna Industrial” para os estudantes de graduação em
psicologia e apresentou o seminário “Sobre os Sonhos” no
Departamento de pós-graduação da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo.
Foi Solon pioneiro nos estudos da obra de Martin Heidegger e
no reconhecimento de sua importância para a atuação dos
profissionais nos campos da medicina, da psicologia e da
educação, que se interessam originalmente pela condição
humana.
Em junho de 1980, por iniciativa do Presidente da Comissão
Geral de Pós-Graduação, Prof. Dr. Joel Martins, Solon
recebeu da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo o
título de “Notável Saber”. A partir de então ele passou a
orientar formalmente trabalhos de pós-graduação nas áreas
de Psicologia e Educação da PUC-SP, dado o seu profundo
envolvimento e conhecimento do pensamento
heideggeriano.
No dia 02 de agosto de 1981, véspera do início de um novo curso na, então, ABATED Solon faleceu.